Os negócios clamam para que saiamos da caixa, a gente se esforça, se debate, tenta. Enquanto isso, “formamos” nossas crianças. Em que fôrmas mesmo? As que temos (as mesmas que nos encaixotaram)… Uma aula da mestre infância sobre criatividade, liberdade e inovação pra minha vida pessoal e corporativa.
Essa é uma foto de um quadro infantil, mas, para mim e pra minha filha, que tinha apenas 4 anos (a Ana Júlia), é um de nossos mundos. Lá, o mar é cor de rosa (a tinta não ajudou), com pedrinhas brilhantes (rosa também!), as nuvens são amarelas e o céu é laranja. A porta que nos leva até lá é azul e flutuante.
A brincadeira começou a partir de uma provocação que fiz por conta de pensamentos e observações que foram ganhando formas a partir de algumas leituras e vivências com temas e circunstâncias diferentes.
Estava atrás do momento “Eureca”! Aquele instante mágico em que alguma grande ideia surge. E pra mim, isso significava criar algo completamente novo. Cheguei a pensar que tudo neste mundo já fora inventado, que sorte tinham os inventores do passado, quando ainda havia coisas a descobrir, e que bom deveria ser viver sem essa avalanche de informações, pois haveria a possibilidade do ócio criativo.
Minha tia e madrinha Cleide Rocha, em um dos desabafos de minhas loucuras, em sua simplicidade sábia, que tanto já me ensinou, disse que o novo não está só em algo inexistente, mas em fazer as coisas de formas diferentes. “Você vai achar o seu jeitinho de fazer”, disse ela, carinhosamente, me encorajando a seguir.
Participei da Oficina de Inovação e Criatividade do diretor de criação da Millerbaum Comunicação, Fernando Mozart, que também é cineasta, diretor e roteirista de TV. Em um bate papo, entre tantos aprendizados e carinhosos chacoalhões (rsrs), ele nos lembrou que Eureca não representa uma ideia que surgiu magicamente. Quando o matemático grego Arquimedes descobriu, ao tomar banho, uma forma de saber se a coroa encomendada pelo rei Hierão era mesmo toda de ouro, sem derretê-la, ele já estava estudando o problema há tempos. Ou seja, a “grande ideia”, na verdade, foi fruto de muito trabalho, estudo e um momento de descompressão.
Em uma entrevista com um CEO do departamento de inovação e criatividade da gigante Danone, em 2006, ele falava de criatividade e inovação como disciplinas, que demandavam processos, métodos e ferramentas. Totalmente o contrário da imagem que eu tinha naquela época a respeito dessas “áreas”. Para mim, ainda havia uma áurea encantada, de dom nato.
De um lado, a criatividade com ares poéticos, que surge do acaso e, por vezes, do caos, limitada a grandes gênios. Do outro, a criatividade que nasce a partir de muito empenho, disciplina, organização e monitoramento, que criam meios e fluxos propícios para que ela se materialize. De qualquer lado, um desafio!
Foi aí que, mais uma vez, minha filha trouxe o que considerei um aprendizado. Neste post tem outra lição que a infância dela me ajudou a ver, sobre a arte de fazer perguntas.
As crianças pequenas não precisam sair da caixa, porque elas, simplesmente, não têm caixas! Nós precisamos de estratégias e todas essas parafernálias de técnicas, métodos e processos. Elas não!
Ouvir o clamor das empresas para que saiamos da caixa é difícil porque, uma vez que você está nela, você já nem sabe mais que está. A caixa vira seu mundo, seu limite. São nossas formações, verdades, conceitos, crenças, medos, traumas, pré-julgamentos, preconceitos… obstáculos inexistentes no início da infância, quando a única coisa que os guiam é a sua voz interior, o instinto humano natural primário que dita inconscientemente o certo e o errado. E nós, na tentativa de educá-los e formá-los para o mundo, os limitamos. Literalmente, os formamos… em caixas!
Li a entrevista de um filósofo que dizia que,em vez de formar, as grandes universidades deveriam “desenformar”. Moldamos os profissionais e depois pedimos que eles se desprendam das amarras!
Ou seja, por que temos que ensinar tanto? Seja para os pequenos ou mesmo para os nossos profissionais do futuro. Por que não incentivamos mais o pensamento, a crítica, a criatividade? Mesmo com as crianças, por que não descemos um pouco do trono real da paternidade/maternidade?
É como o Fernando Dolabela, autor do best-seller “O Segredo de Luísa” e tantas outras publicações, disse em uma palestra que assisti, “o mestre faz o aluno gerar conhecimento… a criatividade é muito mal tratada no processo escolar e é ela a mãe da inovação”.
Ele traz estratégias de ensino baseadas no empreendedorismo. “A atividade empresarial é apenas uma das infindáveis formas de empreender. A minha visão de empreendedorismo é abrangente, contempla toda e qualquer atividade humana. O empreendedor é definido pela forma de ser, e não pela maneira de fazer”, escreveu na sinopse do referido livro.
Sim, empreendedorismo infantil! E não se trata de “corporatizar” as crianças. Pelo contrário, trata de garantir liberdade para que elas ouçam suas vozes interiores. Seus instintos e a luz que pulsa muito mais do que em nós, porque não tem “senões”. É entre as crianças que a linda frase de origem sânscrita Namastê (o Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você) flui naturalmente. Pela Bíblia, Jesus disse que o reino de Deus está dentro de nós. Mas as regras, processos, materialidades, preocupações podem ir ofuscando essa luz interior, moldando-a ao ponto de industrializá-la massivamente, até que fiquemos alheios dela e de nossa própria constituição original.
O filósofo Mário Sergio Cortella em sua exposição no Congresso ABF do ano passado, que tive a alegria de cobrir, tratou justamente da inovação. Uma das reflexões que chamou minha atenção foi quando ele disse:
“Ou eu faço a higienização das minhas práticas ou terei um grande passado pela frente”.
Portanto, inovação para ele também não é, necessariamente, a criação de algo novo. “O livro é a primeira plataforma de ensino à distância. É antigo, mas não é velho. E tem ganhado novas proporções e atingido novos públicos, por meio de canais digitais. Uma aula expositiva é antiga, mas não é velha… É preciso ter raízes (que te alimentam), mas não âncoras (que te afundam)”.
Ao ver um elefante cor de rosa que a Julia desenhou, o pai dela brincou: nunca vi um elefante rosa! Asim, vamos dizendo, “pinta dentro do traço”, “que lindo, pintou sem borrar!”, “o tronco da árvore tem que ser marrom!”… os espaços dedicados às meninas são, na maioria, cor de rosa, aos meninos, azuis (obrigada Frozen por feminizar a cor). E assim vai.
Quando sentamos para desenhar, vejo que os meus traços guiam os dela. Ela compara e acha que o dela está errado! (logo eu, desenhista de primeira! #sqn). E a todo momento, vou “ensinando-a”, intencionalmente ou não. Enquanto eles, “reles crianças” têm as respostas e soluções mais inimagináveis, inventivas e sábias…
Na tentativa de minimizar meus “ensinamentos” surgiu a proposta de fazer um mundo do jeito que ela achasse que ele seria legal e lindo! Daí nasceu o mundo dela. O nosso mundo e o meu, ainda desenformado, mas delicioso, mais aberto, mais de ouvir, onde aprender e ensinar são uma coisa só!
E o seu novo mundo? Que tal começar a germiná-lo?
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. This category only includes cookies that ensures basic functionalities and security features of the website. These cookies do not store any personal information.
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.
7 Comments
Olá,
Recomendo vivamente o seu blog/site.
Gostei muito do seu Post.
Obrigado
Pedro Miguel
Obrigada! Prazer tê-lo por aqui!
Hello! I like your site and positive communication. Thank. I intention be irresistible my thoughts here.
http://www.3ec0f4c78de5021b18.com
Adorei! Mais ainda a frase de sua tia: “novo não está só em algo inexistente, mas em fazer as coisas de formas diferentes”. Além disso, concordo com você: criança não tem caixa e os adultos se colocam nas caixas devido às escolas engessadas a que são submetidos em suas vidas: o aluno tira notas altas qdo repete as palavras exatas do professor, quando pinta o tronco de marrom e as folhas de uma árvore de verde. Triste!
Obrigada, Liana, por compartilhar o seu olhar. Por isso sou grata pela oportunidade de rever conceitos e práticas, que o ser mãe me trouxe. A desconstrução também faz parte da construção!
Muito bom texto! Parabéns!!!
” a única coisa que nos guia é a voz interior”, muito podemos desdobrar dessa frase e você conseguiu ampliar a visão sobre como promover isso!! Parabéns!!